Por Dandara Fuhrmann e Fabrícia Lopes
Passear pela Praça João Pessoa, em Araçatuba, num domingo à tarde pode ser um convite para assistir “de camarote” cenas quase tão intrigantes quanto às de Peter Parker, no filme Homem-Aranha (Spider Man). Saltos, escaladas e suaves pousos são desenvolvidos com naturalidade pelos traceurs, como são chamados os praticantes da curiosa arte de movimentação chamada Parkour.
Le Parkour, como é chamado na França, foi criado na década de 80 pelo francês David Belle. Tanto o avô como o pai dele tinham um passado relacionado com o Exército e os bombeiros. David, então, seguiu as pegadas de seus familiares tornando-se exímio bombeiro, inclusive com premiações. Com o tempo, adaptou técnicas usadas em treinamentos militares para melhorar o enfrentamento de obstáculos a fim de ganhar agilidade e sagacidade na hora de salvar vítimas, as quais batizou de parkour, que significa percurso.
No Brasil, a divulgação se deu principalmente via internet. “Praticantes de diversas cidades como Brasília, São Paulo, Curitiba e Florianópolis começaram a treinar baseados nos vídeos do francês David Belle postados no site YouTube, por volta de 2004”, contou Jean Wainer, paulistano de 23 anos, organizador de eventos da Associação Brasileira de Parkour, sediada em Brasília.
A expansão do esporte fez com que houvesse uma união dos praticantes através dessa entidade. O presidente e analista de sistemas, Alberto Brandão, 23, explica sobre a filosofia do Parkour, a qual não consiste apenas em pular muros como muitos afirmam. “O treino busca eficácia, altruísmo, e a força, no sentido de utilização em casos concretos e necessários”.
Por incentivo da associação, existem hoje eventos de âmbito nacional com o objetivo de promover encontros e outros projetos educacionais, uma vez que não há competições. Justamente por isso, não é considerado como modalidade esportiva oficial. “Não existem competições nem hierarquias, pois fugiria da essência da prática. Já existe outra vertente conhecida como Free Running que realiza isso”, esclarece Brandão.
Em Araçatuba
Há cerca de três anos, o Parkour tem conquistado muitos jovens na cidade. Basta ir à praça ou no Estádio Municipal aos domingos, por volta das 15h, para encontrar jovens intrépidos, ousando movimentos calculados e arriscados. Embora elaborar uma bela performance acrobática não seja seu objetivo principal, é necessária muita concentração e destreza para desenvolver o percurso. A meta é locomover-se de forma mais rápida e eficiente numa situação adversa, de forma a equilibrar mente e físico para superação de obstáculos.
A prática em Araçatuba começou com influência de vídeos do Youtube e do filme B13 -13º Distrito e, em pouco tempo, comunidades relacionadas à atividade, como a “Parkour Araçatuba”, foram criadas em um site de relacionamento. Com isso, vários jovens começaram a se interessar e, ainda hoje, a comunidade é utilizada como auxilio na programação de datas e horários de treinos.
A expansão deu-se via internet e, por isso, fica difícil afirmar o nome de um único pioneiro do Parkour na cidade. Entretanto, Lucas Bottaro, 19, explica que um jovem conhecido como Ferlol, treinava no condomínio Habiana quando ele, Hillo Gandra, de 19 anos, Rafael Piruca, 17, e Anderson Pereira, 19, se juntaram e começaram a aperfeiçoar os movimentos.
Hillo, que pratica há aproximadamente dois anos e meio, considera fundamental desenvolver o lado mental, como a quebra da barreira psicológica do medo. Segundo ele, a arte suscita um estilo individual de cada praticante. “Digamos que é um esporte individual, mutável e totalmente adaptável”.
Questionado sobre o que o levou a praticar, Bottaro afirma que cada um tem uma motivação. “Eu, por exemplo, pretendo ficar mais forte, mais ágil e quebrar a barreira do medo para ultrapassar obstáculos antes impensáveis”. Seja qual for o objetivo, é importante ter consciência de que o Parkour, por não conter regras e limites pré-estabelecidos, pode ser perigoso e, portanto, exige cuidados