sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Le Parkour

Seria o Homem-Aranha?

Arte de movimentação ganha cada vez mais adeptos em Araçatuba

Por Dandara Fuhrmann e Fabrícia Lopes


Passear pela Praça João Pessoa, em Araçatuba, num domingo à tarde pode ser um convite para assistir “de camarote” cenas quase tão intrigantes quanto às de Peter Parker, no filme Homem-Aranha (Spider Man). Saltos, escaladas e suaves pousos são desenvolvidos com naturalidade pelos traceurs, como são chamados os praticantes da curiosa arte de movimentação chamada Parkour.

Le Parkour, como é chamado na França, foi criado na década de 80 pelo francês David Belle. Tanto o avô como o pai dele tinham um passado relacionado com o Exército e os bombeiros. David, então, seguiu as pegadas de seus familiares tornando-se exímio bombeiro, inclusive com premiações. Com o tempo, adaptou técnicas usadas em treinamentos militares para melhorar o enfrentamento de obstáculos a fim de ganhar agilidade e sagacidade na hora de salvar vítimas, as quais batizou de parkour, que significa percurso.

No Brasil, a divulgação se deu principalmente via internet. “Praticantes de diversas cidades como Brasília, São Paulo, Curitiba e Florianópolis começaram a treinar baseados nos vídeos do francês David Belle postados no site YouTube, por volta de 2004”, contou Jean Wainer, paulistano de 23 anos, organizador de eventos da Associação Brasileira de Parkour, sediada em Brasília.

A expansão do esporte fez com que houvesse uma união dos praticantes através dessa entidade. O presidente e analista de sistemas, Alberto Brandão, 23, explica sobre a filosofia do Parkour, a qual não consiste apenas em pular muros como muitos afirmam. “O treino busca eficácia, altruísmo, e a força, no sentido de utilização em casos concretos e necessários”.

Por incentivo da associação, existem hoje eventos de âmbito nacional com o objetivo de promover encontros e outros projetos educacionais, uma vez que não há competições. Justamente por isso, não é considerado como modalidade esportiva oficial. “Não existem competições nem hierarquias, pois fugiria da essência da prática. Já existe outra vertente conhecida como Free Running que realiza isso”, esclarece Brandão.

Em Araçatuba

Há cerca de três anos, o Parkour tem conquistado muitos jovens na cidade. Basta ir à praça ou no Estádio Municipal aos domingos, por volta das 15h, para encontrar jovens intrépidos, ousando movimentos calculados e arriscados. Embora elaborar uma bela performance acrobática não seja seu objetivo principal, é necessária muita concentração e destreza para desenvolver o percurso. A meta é locomover-se de forma mais rápida e eficiente numa situação adversa, de forma a equilibrar mente e físico para superação de obstáculos.

A prática em Araçatuba começou com influência de vídeos do Youtube e do filme B13 -13º Distrito e, em pouco tempo, comunidades relacionadas à atividade, como a “Parkour Araçatuba”, foram criadas em um site de relacionamento. Com isso, vários jovens começaram a se interessar e, ainda hoje, a comunidade é utilizada como auxilio na programação de datas e horários de treinos.

A expansão deu-se via internet e, por isso, fica difícil afirmar o nome de um único pioneiro do Parkour na cidade. Entretanto, Lucas Bottaro, 19, explica que um jovem conhecido como Ferlol, treinava no condomínio Habiana quando ele, Hillo Gandra, de 19 anos, Rafael Piruca, 17, e Anderson Pereira, 19, se juntaram e começaram a aperfeiçoar os movimentos.

Hillo, que pratica há aproximadamente dois anos e meio, considera fundamental desenvolver o lado mental, como a quebra da barreira psicológica do medo. Segundo ele, a arte suscita um estilo individual de cada praticante. “Digamos que é um esporte individual, mutável e totalmente adaptável”.

Questionado sobre o que o levou a praticar, Bottaro afirma que cada um tem uma motivação. “Eu, por exemplo, pretendo ficar mais forte, mais ágil e quebrar a barreira do medo para ultrapassar obstáculos antes impensáveis”. Seja qual for o objetivo, é importante ter consciência de que o Parkour, por não conter regras e limites pré-estabelecidos, pode ser perigoso e, portanto, exige cuidados

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Queridos Hipongas


Em mais uma de minhas andanças de circular para Araçatuba...


- Vamos Danda, rápido, rápido! Os Hippies, os Hippies! Gritava a Fabrícia meio que sapateando uma espécie de pulinho incontido.


E eu lá, junto da Priscila e da Marília, com uma fila em nossa frente e uma mochila pra dificultar ainda mais nossa passagem pela catraca do busão.


-Corre, rápido, Danda! Insistia a doida...


Enfim sai do bumba, e lá fomos nós bater um papo com os três hippies. Eles estavam há dois dias sem tomar banho e tinham acabado de comprar presunto e queijo.


Uma era chilena (a magrinha) e a outra argentina. O rapaz, brasileiro.

No meio das mochilas coloridas deles alguns livros que tratavam da filosofia zen.


Aproveitamos para tirar uma foto, já que o Juninho estava com pressa no carro, e sem muito entusiasmo para esperar a gente conversar com aquele povo estranho.


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Conheça Tom Zé!

E para não ficar só de um lado... segue abaixo exemplo de quem entende da coisa.
O texto é de minha colega Fabrícia Lopes.

Tom estará em Araçatuba dia 30 de outubro, na estação ferroviária, às 20h. Para mais informações, ligue: (18) 36085400 - Sesc Araçatuba

Tom Zé e a sua resistência frente ao capital

Fabrícia Lopes
Quarto semestre de Jornalismo

Um regime totalitário devido sua força dogmática sempre suscita oposição. Em 1968, o Brasil vivia sob uma severa ditadura militar. Tanta proibição por parte do Estado fez emergir um forte espírito de negação. Mas o que negar? Regime político, valores morais e também a produção cultural, que até então, era pautada por um intenso nacionalismo. Tal conjuntura incitou a interferência de intelectuais que assumiram uma postura crítica frente a atual situação.

A intervenção desses músicos e intelectuais recebeu o nome de Tropicalismo. O movimento contava com os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, o maestro e arranjador Rogério Duprat, o trio Mutantes e as cantoras Gal Costa e Nara Leão. Oficialmente, a união destes músicos durou apenas um ano, no entanto a influência decorrente desta reviravolta cultural continua ecoando na música brasileira.

Tom Zé, intelectual engajado serve de exemplo, pois continua a questionar as posturas ditas “democráticas”. O músico que não se rendeu ao mercado é um exímio conhecedor das estruturas sociais. A profundidade de sua arte pode ser explicada por sua formação. Tom cresceu em uma família dividida em facções ideológicas: revolucionários versus reacionários. As reuniões de família sempre tinham como tema questões doutrinárias e isto fez com que o intelectual transformasse a política na tônica de suas composições.

O baiano, que usa a música como instrumento ideológico, continua a denunciar as barbáries do atual sistema com suas polêmicas letras, assim como fazia há 40 anos. Os álbuns “No Jardim da Política” e “Com Defeito de Fabricação”, ambos de 1998, retratam questões sociais complexas, que foram esquecidas pelos famosos tropicalistas olimpianos que outrora eram ferrenhos críticos do Estado.

Sem dúvida, a crítica social do gênio evidência a omissão por parte de alguns intelectuais vendidos, que optaram pela fama e pelas “delícias” da sociedade capitalista. O baiano Tom Zé continua a cantar por prazer e por amor a suas convicções. Tanta originalidade não desperta o interesse da grande imprensa, que prefere em seus espaços aqueles adeptos ao capital e suas vantagens.

Nisso, notamos que a abertura política fez emergir um novo inimigo, o neoliberalismo, uma fase avançada do capitalismo que inviabiliza a crítica pelo meio musical já que os conglomerados se apropriam da produção cultural com censura exercida pelas gravadoras. A arte perde sua essência e torna-se uma mera mercadoria.

Ao contrário de Gil e outros colegas de Tropicália, Tom Zé manteve-se fiel aos seus ideais. Esta atitude lhe custou o esquecimento durante um longo período, entretanto, tanta genialidade não pode ser contida pela censura mercadológica, e sua música repleta de singularidade ainda hoje é reconhecida no Brasil e fora dele.

Tom e sua história nos ensinam que o Tropicalismo que era para ser um movimento ideológico, político e cultural, tornou-se uma fábrica de construir vedetes. Estas circunstâncias ilustram que na sociedade capitalista até os movimentos sociais e ideológicos são rendidos pelo capital que toma todos os espaços.

Para músicos e qualquer cidadão, Tom Zé é um exemplo, pois não negocia seu dom em troca de prestígio, fama e poder. Ele e sua esposa, Neuza, atualmente vivem uma vida simples, sem grandes holofotes. Este cantor avesso às regras comerciais conseguiu provar que trabalho e prazer podem andar juntos, mesmo quando a localização geográfica é o Brasil.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu Quero Mais Música na Música!

Foto: Sylvia Koscina, João Gilberto, Tom Jobim e Mylene Demongeot


Bossa Nova e Tropicália; Estereótipos de intelectualidade

Quase dez anos antes das efervescências estudantis de 1968 eclodirem na França, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e outros músicos cariocas já se reuniam no Edifício Palácio Champs Elysée, no apartamento de Nara Leão para curtir um samba e trocar idéias. Talvez o fizessem meio que despretensiosamente, mas, o ajuntamento desses artistas também culminou em boa revolução. Cerca de dois anos depois, o estilo popular de música brasileira era transformado.

Uma nova harmonia, que mistura idéias do jazz e a percussividade do samba, com algumas paradas improvisadas e um canto leve e meio parado, que remetem bem ao jeitinho malandro, ajustou-se ao já tradicional samba. E as letras, ou poemas, acompanhavam a delicadeza das novas melodias. Era o nascimento de um novo modo de tocar, ou de uma “bossa”, como era a gíria do momento, utilizada para designar algo que fosse original. Justamente por isso denominou-se bossa nova a nova cultura de fazer música.

O que era pra ser símbolo da inovação do jazz, ou do samba, e da mais bela estética harmônica, acabou se tornando brasão de intelectualidade, ou de identificação com a elite econômica. Se a bossa nova surgiu em momentos conturbados da política mundial, e de fato tentava refletir isso em suas composições, mesmo que intrinsecamente, não precisa necessariamente ser amada por essa máxima. É bonita demais pra isso. E, se o samba surgiu nos guetos, os apreciadores, hoje, identificam-se como pertencentes às classes privilegiadas. Algo muito estranho para uma sociedade que desde o período colonial estabeleceu forte resistência em relação a quaisquer manifestações artísticas de origem negra.

João Gilberto quando cantou “Hô-ba-la-lá” para Menescal, que foi uma das primeiras músicas com cara de bossa nova, nada tinha de denúncia social, e não foi por isso que deixou de encantar a quem ouvia. Tanto que Menescal ficou admirado e correu levar o baiano a seus amigos.

Anos depois, em 1967, o movimento tropicália aparece como ápice de demonstração ideológica nas composições musicais. É o que hoje se afirma, mas na época em que ocorreu era visto como vago, sem comprometimento político, e seus representantes apontados como alienados. No terceiro milênio, porém, o movimento está muito mais bem conceituado. Seria mais uma forma bonita e emocionante de se contar a história do Brasil?

No campo sonoro, porém, algumas mudanças de fato ocorreram como o uso da guitarra elétrica, devido à influência do rock, e pela mistura de outros ritmos; bolero, baião, samba etc. Por isso a consideração antropofágica dada ao movimento. Fato que muitos criticavam por relacionar à falta de nacionalismo, visto que os outros estilos musicais de nada tinham a ver com a cultura popular brasileira. Se assim fosse, então, viveríamos eternamente ao som do bandolim.

Quanto à apropriação dos gêneros populares pela classe dominante, há justificativas muito antigas para o caso. A criação de modinhas populares por Domingos Caldas Barbosa, no século 18, tiveram grande sucesso e rapidamente foram absorvidas pela elite, que levou muitos músicos eruditos a compor modinhas e reproduzi-las nos salões imperiais de Portugal. Embora, é claro, com algumas adaptações. Como disse Mário de Andrade, “nada tinha de amoroso, e muito menos de referência a negras e mulatas sexuais”.

Não sei se é costume brasileiro, mas, é impressionante como sempre se atrela artistas à vida política do país. Não que eles não devam ter conhecimento político, pois, como já dizia Brecht, “o pior analfabeto, é o analfabeto político”, mas convenhamos, que mania imprópria. Artista não tem que opinar em nada, a menos que de fato seja um estudioso do assunto. Já chega de falsos Caetanos embromando um discurso pífio.

Apropriada pelas elites ou pelas guerras ideológicas, a música popular brasileira pode ser contemplada pela beleza de sua melodia e sua complexa harmonia, ainda que não possua cunho ideológico. Não fosse assim, a música clássica não seria tão intimista e fortemente apreciada mesmo após séculos de inspiração


Good bye american dream...

É, não passei. Estava muito confiante, acho que porque queria muito. Mas, não fui selecionada. Fiquei arrasada. Meu amigo João Victor quando me ouviu dizendo que não tinha sido escolhida soltou (ele soube me consolar): Ah é, pra quê? Seleção da Vogue? Aí consegui rir.

Não ter sido selecionada até me fez pensar em seguir outra carreira, esquecer os livros, desistir dessa vida de “orgasmos intelectuais”, como diria Filardi, grande professor de antropologia.

A tão sonhada seleção era para participar de um programa da embaixada dos Estados Unidos, em que vinte alunos de Jornalismo, Ciências Políticas e Relações Internacionais iriam observar durante duas semanas as eleições norte-americanas. Tudo pago. Acesso às aulas de ciências políticas da Universidade da Carolina do Norte. Seminários e passeios turísticos.

Mas a vida segue... O jeito é continuar com minhas aulinhas de inglês, que um dia eu chego lá.

Só pra não deixar isso aqui tão desatualizado... E já que o assunto é rádio, vai aí uma dica:
Web Rádio da galera da Toledo!



Sofrendo Interferência Eletromagnética


Se antigamente as pessoas se baseavam na posição do sol para realizarem seus afazeres, a partir do século 20, pelo menos no Brasil, o rádio também passou a auxiliar o homem na realização de suas atividades. O rádio conseguia induzir o homem ao ritual, pois este passara a executar seus hábitos a partir das programações do rádio, sem mais precisar do sol ou de um relógio, que fosse, para se localizar no tempo e no espaço.

Com isso, notou-se como o rádio cria signos de reminiscência na sociedade, que são uma espécie de memorial coletiva. É como se as programações radiofônicas enviassem para o ouvinte sinais que inconscientemente remetessem à necessidade de executar alguma ação. Lembro-me de um programa de notícias da AM que, eu sabia, assim que ele começasse minha avó serviria o almoço. E mesmo após mais de dez anos, quando a visito é a mesma coisa. Almoça-se ouvindo o bendito programa.

Essa capacidade que o rádio tem de trabalhar no imaginário das pessoas foi provavelmente percebido por chefes de estado totalitários como Hitler e Mussolini, os quais a utilizaram como instrumento de divulgação e manipulação ideológica. Embora naquele momento as possibilidades do rádio ainda estivessem em fase de descobrimento, já permitira a elaboração de estudos que identificavam o poder de influência das ondas do rádio.

A Teoria Hipodérmica, ou da Bala Mágica foi exemplo disso. Após a primeira Guerra Mundial, estudos sobre a propaganda de massa utilizada como estratégia de guerra resultaram nesse primeiro pensamento comunicacional. Esta teoria seguia a idéia da psicologia behaviorista de Pavlov, a qual afirma que muitas respostas comportamentais são reflexos imediatos. Dessa forma, consideravam-se ouvintes como uma massa amorfa, passiva, que responde de forma imediata e uniforme às mensagens da mídia.

A força motriz dessa teoria se deve a forte manipulação que se acreditava ser exercida pelos meios de comunicação de massa. De fato, Joseph Goebbels, então ministro da propaganda do governo Hitler, conseguiu alavancar a audiência de quatro milhões de ouvintes em 1933 para 97 milhões em 1939, e com isso aumentar o apoio das massas a política nazista.

Nessa mesma época o Brasil também se via sob forte influência hertziana. Nosso grande estadista Getúlio Vargas, utilizara do rádio como meio de propagar suas ações governamentais e mais, elaborou medidas para sua regulamentação, institucionalizando-o. Com essa regulamentação, garantiu também espaço legal para transmissão de propagandas comerciais. Com tantos incentivos, Vargas parecia querer abraçar o Brasil, cercá-lo pela sua égide nacionalista, e o rádio claro, era visto como ótimo instrumento.

Hoje não se acredita num poder manipulador da mídia. Tanto que a Teoria Hipodérmica foi superada ainda em 1948 por estudos de Lasswell, que comprovara a ineficácia da mesma. Segundo ele, em sua Teoria da Persuasão, as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação passam por processos psicológicos intervenientes (mente humana), para então causar um efeito, ou seja, a formação de opinião do ouvinte. A mídia poderia então influenciar, e não manipular.

Há quem credite isso a mudança do público ouvinte, que passou a escolher, ter vontade própria, pois adquiriram certa malícia após cerca de dez anos de atividade midiática. O público havia então amadurecido. Outros, porém, achavam que essa idéia de que o público não pensava era, desde o princípio, indevida. Era apenas uma bobagem criada pela burguesia.

Afirmar que a mídia manipula ou influência a sociedade é polêmico e comprometedor, mas após mais de meia década de funcionamento do rádio, há transformações sociais que de fato se devem a ele. O rádio conseguiu legitimar nossa vida social, tanto com a prática ritual que reforça a calendarização, quanto com a efetivação de uma memória coletiva, fortalecedora de tradições.