quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Nego e não nego!

Galera que quer negar. São jovens integrantes da União da Juventude Socialista (UJS), em Congresso no mês de abril, em Barra Bonita, SP.


Por que negar?

Por Dandara Fuhrmann e Fabrícia Lopes

Muitas transformações históricas têm sua gênese na negação. O que seria do proletariado se não tivesse se organizado em sindicatos e dito não à exploração, e do meio ambiente se não houvesse militantes que dissessem não ao desmatamento? E se Martinho Lutero não tivesse dito não ao clero e suas indulgências? Enfim, vários foram os “nãos” cruciais para a garantia de mudanças.

1968 foi o ano que melhor representou o sentimento de negação da juventude em toda parte do globo. Movimentos sociais eclodiram como forma de protesto à Guerra do Vietnã (1964- 1975), à repressão sexual, à manipulação do imaginário coletivo pela mídia, e à ordem cultural predominante. “A coisa da liberdade, da subjetividade, do comportamento, são conquistas de 68, e muitas dessas conquistas foram se aprimorando”. Afirma o Jornalista Zuenir Ventura, autor do livro 1968 – “O ano que não terminou” - Editora Planeta.

A contracultura era muito evidente neste momento. Jovens buscavam uma forma alternativa de vida, desligada do mundo organizado, que prezasse a liberdade e o prazer. O movimento Hippie foi uma demonstração de comportamento não ajustado aos padrões vigentes da sociedade. Com o lema “Make love not war” (faça amor e não guerra) e “flower power” (poder das flores), pretendiam negar às guerras e ao apego aos bens materiais, assim como propor uma volta aos valores naturalistas.

Neste momento, o Brasil vivia sob o jugo da ditadura militar. As manifestações estudantis assimiladas também por artistas, intelectuais, operários e sindicalistas contra a ditadura possibilitaram a formação da atual democracia representativa. O filósofo Prof. Dr. Júlio Tognolli da Universidade de São Paulo (USP), foi militante dos movimentos contra a ditadura militar, e concedeu-nos entrevista via telefone, na qual disse que a contracultura teve como um de seus pilares as idéias de Nietzsche e Herbert Marcuse que, ao reinterpretar a teoria psicanalítica de Freud, conclui que o Racionalismo (doutrina filosófica surgida nos séculos 17/18 - afirma ser a razão o único órgão adequado e completo do saber), na verdade não leva à liberdade, mas ao descontrole. “Chegou-se à possibilidade da não-repressão, rapidamente adotada pela libertária juventude, que passou a repudiar a razão. A contracultura surgiu, justamente, porque as pessoas haviam se cansado do nazismo, e das bombas atômicas. Essa geração indagou: Porque confiar no homem?” Explicou Tognolli.

O término da repressão política no Brasil trouxe, entretanto, o esquecimento da mesma. Há que se negar a esse esquecimento. Seria porque a democracia não empolga? “A democracia é um regime necessariamente de tédio”, disse o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. A necessidade do debate político, da busca pela compreensão do cenário social é mais facilmente percebida em tempos de insegurança política. O que talvez não ocorresse se o leque possiblitado pela democracia fosse enxergado – “Pois é na rotina que podemos fazer as melhores coisas. Quando todo dia fazemos um pouco de coisas boas, fazemos muito. É assim que se constrói um país livre e bom de viver: fazendo das melhores práticas, rotinas. Para quem tem imaginação, isso é altamente empolgante”, conclui o filósofo.

Essa falta de empolgação permitiu o desenvolvimento de práticas, exercidas principalmente pela mídia, que suprem a necessidade de entusiasmo pelas relações humanas. Intelectuais como Guy Debord, filósofo e estudioso de nossa realidade pós - moderna, afirma que vivemos numa fase marcada pela troca do real pela sua representação, ou seja, a sociedade do espetáculo. Tudo aquilo que falta na vida rotineira e desgastante do homem comum é suprido pelas representações da mídia e das peças publicitárias que transmitem emoções de aventura, felicidade, prazer, que deveriam ser vivenciadas diretamente. Seria uma maneira artificial de se viver, em que as sensações são calculadamente construídas e vendidas à sociedade. Este conceito é também conhecido como “fetichismo da mercadoria” - a felicidade atrelada ao consumo. O livro de Debord, “A sociedade do espetáculo” - Editora Contraponto - reflete esta problemática.

Segundo a antropóloga Aline Vilhena, o conflito, tanto interior como exterior, é de grande relevância, pois, ao percebermos o que nos cerca e ao tentar entender suas devidas circunstâncias, evoluímos, e negar, sem dúvida, é uma das atitudes cabíveis para que transformações positivas ocorram.

2 comentários:

Anônimo disse...

Um não pode levar ao eterno sim!

Nathália Bragalda disse...

nao negoooooooooo! tah bom seu blog florrrrr tudibaum bjusssssss