quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Conheça Tom Zé!

E para não ficar só de um lado... segue abaixo exemplo de quem entende da coisa.
O texto é de minha colega Fabrícia Lopes.

Tom estará em Araçatuba dia 30 de outubro, na estação ferroviária, às 20h. Para mais informações, ligue: (18) 36085400 - Sesc Araçatuba

Tom Zé e a sua resistência frente ao capital

Fabrícia Lopes
Quarto semestre de Jornalismo

Um regime totalitário devido sua força dogmática sempre suscita oposição. Em 1968, o Brasil vivia sob uma severa ditadura militar. Tanta proibição por parte do Estado fez emergir um forte espírito de negação. Mas o que negar? Regime político, valores morais e também a produção cultural, que até então, era pautada por um intenso nacionalismo. Tal conjuntura incitou a interferência de intelectuais que assumiram uma postura crítica frente a atual situação.

A intervenção desses músicos e intelectuais recebeu o nome de Tropicalismo. O movimento contava com os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, o maestro e arranjador Rogério Duprat, o trio Mutantes e as cantoras Gal Costa e Nara Leão. Oficialmente, a união destes músicos durou apenas um ano, no entanto a influência decorrente desta reviravolta cultural continua ecoando na música brasileira.

Tom Zé, intelectual engajado serve de exemplo, pois continua a questionar as posturas ditas “democráticas”. O músico que não se rendeu ao mercado é um exímio conhecedor das estruturas sociais. A profundidade de sua arte pode ser explicada por sua formação. Tom cresceu em uma família dividida em facções ideológicas: revolucionários versus reacionários. As reuniões de família sempre tinham como tema questões doutrinárias e isto fez com que o intelectual transformasse a política na tônica de suas composições.

O baiano, que usa a música como instrumento ideológico, continua a denunciar as barbáries do atual sistema com suas polêmicas letras, assim como fazia há 40 anos. Os álbuns “No Jardim da Política” e “Com Defeito de Fabricação”, ambos de 1998, retratam questões sociais complexas, que foram esquecidas pelos famosos tropicalistas olimpianos que outrora eram ferrenhos críticos do Estado.

Sem dúvida, a crítica social do gênio evidência a omissão por parte de alguns intelectuais vendidos, que optaram pela fama e pelas “delícias” da sociedade capitalista. O baiano Tom Zé continua a cantar por prazer e por amor a suas convicções. Tanta originalidade não desperta o interesse da grande imprensa, que prefere em seus espaços aqueles adeptos ao capital e suas vantagens.

Nisso, notamos que a abertura política fez emergir um novo inimigo, o neoliberalismo, uma fase avançada do capitalismo que inviabiliza a crítica pelo meio musical já que os conglomerados se apropriam da produção cultural com censura exercida pelas gravadoras. A arte perde sua essência e torna-se uma mera mercadoria.

Ao contrário de Gil e outros colegas de Tropicália, Tom Zé manteve-se fiel aos seus ideais. Esta atitude lhe custou o esquecimento durante um longo período, entretanto, tanta genialidade não pode ser contida pela censura mercadológica, e sua música repleta de singularidade ainda hoje é reconhecida no Brasil e fora dele.

Tom e sua história nos ensinam que o Tropicalismo que era para ser um movimento ideológico, político e cultural, tornou-se uma fábrica de construir vedetes. Estas circunstâncias ilustram que na sociedade capitalista até os movimentos sociais e ideológicos são rendidos pelo capital que toma todos os espaços.

Para músicos e qualquer cidadão, Tom Zé é um exemplo, pois não negocia seu dom em troca de prestígio, fama e poder. Ele e sua esposa, Neuza, atualmente vivem uma vida simples, sem grandes holofotes. Este cantor avesso às regras comerciais conseguiu provar que trabalho e prazer podem andar juntos, mesmo quando a localização geográfica é o Brasil.

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