quarta-feira, 8 de outubro de 2008


Só pra não deixar isso aqui tão desatualizado... E já que o assunto é rádio, vai aí uma dica:
Web Rádio da galera da Toledo!



Sofrendo Interferência Eletromagnética


Se antigamente as pessoas se baseavam na posição do sol para realizarem seus afazeres, a partir do século 20, pelo menos no Brasil, o rádio também passou a auxiliar o homem na realização de suas atividades. O rádio conseguia induzir o homem ao ritual, pois este passara a executar seus hábitos a partir das programações do rádio, sem mais precisar do sol ou de um relógio, que fosse, para se localizar no tempo e no espaço.

Com isso, notou-se como o rádio cria signos de reminiscência na sociedade, que são uma espécie de memorial coletiva. É como se as programações radiofônicas enviassem para o ouvinte sinais que inconscientemente remetessem à necessidade de executar alguma ação. Lembro-me de um programa de notícias da AM que, eu sabia, assim que ele começasse minha avó serviria o almoço. E mesmo após mais de dez anos, quando a visito é a mesma coisa. Almoça-se ouvindo o bendito programa.

Essa capacidade que o rádio tem de trabalhar no imaginário das pessoas foi provavelmente percebido por chefes de estado totalitários como Hitler e Mussolini, os quais a utilizaram como instrumento de divulgação e manipulação ideológica. Embora naquele momento as possibilidades do rádio ainda estivessem em fase de descobrimento, já permitira a elaboração de estudos que identificavam o poder de influência das ondas do rádio.

A Teoria Hipodérmica, ou da Bala Mágica foi exemplo disso. Após a primeira Guerra Mundial, estudos sobre a propaganda de massa utilizada como estratégia de guerra resultaram nesse primeiro pensamento comunicacional. Esta teoria seguia a idéia da psicologia behaviorista de Pavlov, a qual afirma que muitas respostas comportamentais são reflexos imediatos. Dessa forma, consideravam-se ouvintes como uma massa amorfa, passiva, que responde de forma imediata e uniforme às mensagens da mídia.

A força motriz dessa teoria se deve a forte manipulação que se acreditava ser exercida pelos meios de comunicação de massa. De fato, Joseph Goebbels, então ministro da propaganda do governo Hitler, conseguiu alavancar a audiência de quatro milhões de ouvintes em 1933 para 97 milhões em 1939, e com isso aumentar o apoio das massas a política nazista.

Nessa mesma época o Brasil também se via sob forte influência hertziana. Nosso grande estadista Getúlio Vargas, utilizara do rádio como meio de propagar suas ações governamentais e mais, elaborou medidas para sua regulamentação, institucionalizando-o. Com essa regulamentação, garantiu também espaço legal para transmissão de propagandas comerciais. Com tantos incentivos, Vargas parecia querer abraçar o Brasil, cercá-lo pela sua égide nacionalista, e o rádio claro, era visto como ótimo instrumento.

Hoje não se acredita num poder manipulador da mídia. Tanto que a Teoria Hipodérmica foi superada ainda em 1948 por estudos de Lasswell, que comprovara a ineficácia da mesma. Segundo ele, em sua Teoria da Persuasão, as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação passam por processos psicológicos intervenientes (mente humana), para então causar um efeito, ou seja, a formação de opinião do ouvinte. A mídia poderia então influenciar, e não manipular.

Há quem credite isso a mudança do público ouvinte, que passou a escolher, ter vontade própria, pois adquiriram certa malícia após cerca de dez anos de atividade midiática. O público havia então amadurecido. Outros, porém, achavam que essa idéia de que o público não pensava era, desde o princípio, indevida. Era apenas uma bobagem criada pela burguesia.

Afirmar que a mídia manipula ou influência a sociedade é polêmico e comprometedor, mas após mais de meia década de funcionamento do rádio, há transformações sociais que de fato se devem a ele. O rádio conseguiu legitimar nossa vida social, tanto com a prática ritual que reforça a calendarização, quanto com a efetivação de uma memória coletiva, fortalecedora de tradições.

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